segunda-feira, 30 de maio de 2011

fotografias de vazios

Pode-se fotografar o vazio? Talvez possa-se mostrar o quanto as coisas são vazias mostrando coisas e objetos, mas O Vazio não consigo apreender na foto. Fico pensando em como os hiatos e hiâncias são constantes, o quanto as pessoas falam coisas que não condizem com aquilo que querem realmente, alienação a sí mesmos, preenchendo espaços com algodão. Talvez nenhuma pessoa possua o dom de fazer essa proeza de calar o Indomável que há em sí, e fugir das ciladas que percorremos a pé em meio a caminhos escusos. Mapas enganadores recebemos quando começamos a existir e ficamos à mercê do desejo escuso de encontrar a vereda que nos afaste cada vez mais de nossa meta que é dar de cara com o vazio.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Entre o mar e o mono
entre o estar atento e ao sono
entre o múltiplo e o mono
refugiar em zonas de fronteiras

nascedouro de outra cena

O nascedouro da poesia
parte de uma palavra
cerceada
querendo mostrar o outro verso
que carrega consigo

terça-feira, 24 de maio de 2011

aluvião

essa candura de enxergar o rabisco
e ver uma pintura realista, fotográfica


aludir a algo que não se vê completamente
essa paciência de compreender gota a gota


alusão 
a um amigo, a uma fala, a um sonho
parece que está toldado


timbrado para ser realidade
parece que tem que ser alusão
ouro de aluvião

sábado, 14 de maio de 2011

O último adeus



Possas tu dar o último adeus
Levantar a mão e dizer: jamás!
Esquecer e nunca mais voltar
perder e nunca mais achar


possas tu se desfazer das ondas
que vão e voltam trazendo as mesmas mensagens de penas
trazendo notícias, ressacas, dores
e coisas repetidas, caliçadas, ondulantes de outros lugares
(ou dos mesmos?)


não queiras ser amigo das ondas, elas sempre vão e voltam...


Possas tu dar o último adeus que eu sempre quis
de nunca viver de novo as mesmas penas e perdas
acenar uma vez para nunca mais!
Mas o último adeus não existe
enquanto se viver
de sempre dar despedidas a tudo
ao que se tem e ao que sempre se perdeu...

sexta-feira, 13 de maio de 2011

As mãos de Santa Rita

Em um dia, muito sensibilizado pela beleza de uma obra sacra, entrei em uma capelinha a fim de vê-la melhor. Era uma Santa Rita barroca, bem desgastada pelo tempo, cheia de devoções, fitas e rezas. Realmente, era uma santa que passou por muitas provações, provações de tempos. Notei que era feita de madeira cinzelada, e possuía as mãos destacadas do corpo. Como se o artista tivesse entalhado as mãos para melhor destacar a beleza e sensibilidade. Notei que suas mãos estavam viradas e não pousavam corretamente no crucifixo. A capelinha estava vazia, parecia que poucas pessoas andavam por lá e eu fui tentar tocar em suas frágeis mãos e colocá-las em seu lugar. Mas ao menor toque, elas caíram no chão! Rapidamente coloquei-as de volta, mas do jeito que estavam. Parece que existem coisas que devemos deixar como está. Somente funcionam de uma forma meio torta... meio meio...

sexta-feira, 6 de maio de 2011

escutar conchas



Quem nunca colocou uma concha no ouvido para escutar as águas do mar? eu já fiz isso muitas vezes e imaginava como era uma praia, um mar, um oceano. Sabe porque? As lesmas quando vão embora guardam dentro de sí o barulho as ondas e vão embora. Vão embora para nunca mais voltar, e guardam para escutar o que aquilo já se perdeu... para ficar pensando nas águas do mar. Tem gente que é que nem concha, vive guardando coisas, para escutar coisas e viver pensando naquilo que um dia foi-se para nunca mais voltar.

terça-feira, 3 de maio de 2011

O Conselheiro





Naquela casa bonita na bem localizada cidade morava um senhor muito sábio e para o qual corriam muitas pessoas, de diversos lugares para ouvir seus conselhos. Diziam as pessoas que seus conselhos sempre davam certo. Ele como era um senhor bem senhor, de tudo já lera, já passara por muitos caminhos, era como o velho eclesiastes, em busca sempre do mundo e da iluminação. Por isso sempre tinha alguma resposta para aquelas questões pungentes. Mas ele olhava da janela, as ruas com suas passagens, o horizonte, os pássaros e os livros. Não havia quem o entendesse, que desse conselhos para ele. O conselheiro estava sozinho. Ninguém entenderia esse homem tão sábio, os seus livros deram conta para apenas para os outros. - "E eu? perguntava de sí para sí, tudo dos outros está superado, mas eu?"

segunda-feira, 2 de maio de 2011

a lenda do reizinho - pulsão de morte



Conheci um reizinho tirânico que ficou no poder de um estado durante muito tempo, mas aconteceu como sempre acontece: ele morreu. Mas os seus súditos adiaram mais a sua morte. O reizinho morreu, mas ninguém ficou sabendo. Guardaram segredo de Estado e morreriam todos aqueles que dissessem a verdade. Fizeram imagens de discursos, apresentações e quase todas as semanas saíam uma nova polêmica sobre ele. Tudo como se ele estivesse vivo... e nada estivesse acontecido. Quando descobriram que ele foi morto a multidão vibrou, pois achavam que ele encarnava o mal. Entrou outro reizinho em seu lugar. Ora, o problema não era o reizinho era a peste da tirania que estava lá muito bem assentada em tronos milenares, em cargos eternamente vitalícios, empunhando espadas e tropas em segredo e invisíveis como o andar silencioso da pulsão de morte...