sábado, 18 de dezembro de 2010

como tem gente



Tem gente que passa a vida como quem lê apressado:
Só passando o olho por cima...

valor sem ser real





Eu que sou poeta
Não escrevo coisas bonitas
Pois me fogem as regras da gramática
E também palavras bonitas
E alinhavadas
Os antigos poetas escreveram
E os filósofos escreveram tudo
O que se poderia dizer
E por sinal, fiquei por último
Para falar do que esqueceram
Do mundo esquecido
E por sinal, não há sinal
Eu que andei por caminhos ignotos
Tenho em meus bolsos moedas sem valor
Minha poesia é des-vaziada
O dinheiro dos homens
Passaram dos réis a cruzeiros
De cruzados ao real
Então, o meu dinheiro já não compra
O que eles compram
Pois é um valor sem ser real.

estrada





Eu, que ando pelas estradas
A mim foram negadas as palavras arrebatadoras
E só me sobraram as mesmas que criei
Desconheço os lugares desconhecidos
E alguns conhecidos
Só sei falar do trivial
Do capim que cresce nas praças
E das árvores anônimas das praças
E que dão sombra
Aos pássaros que não voltam mais.

origem

Tenho a origem desconhecida
E do mesmo material que forma o sonho
Ter a mesma feição das nuvens
E do vôo dos pássaros
Tenho a origem desconhecida como
As cores deliciosas das borboletas
Tenho esta origem desconhecida
Das regularidades das manhãs
Meu nome é Ser
Não há a palavra certa que me diga
Sou inomeável e sem explicação.

ode a baco

Talvez nem sejamos ébrios pelo álcool o tempo inteiro
Talvez nem precisamos estar embriagados
E tantas vezes recriminamos quem estão...
Vivemos como se fossemos anestesiados
Tão quanto embriagados
Fora de si
Totalmente fora do mundo
Despidos de sensibilidades
Despertencidos, desentendidos
Desinstituídos
Sem lucidez, totalmente embriagados
Surtados, olvidados dos acontecimentos do mundo
Afirmando lucidamente:
- “Estou consciente!”

sinônimo

São tantas palavras servem para dizer muitas coisas
Tantos sinônimos que anteparam
Os verdadeiros significados da vida
Ou seja, ou sejam, ou seja ...
Para ficarem mais amenos, mais ou menos
São sintomas, é santo, são sinônimo.

escolhas?

Não tenho bússolas que me guiem
Nem mapas que oriente
Há caminhos que me conduzem por estradas
Que nunca conheço os seus nomes
Desnaturalizado pela vida
Humanizado pelos humanos
Marcado pela indecisão
imprecisão
É minha marca temporal...

fotografias



A minha fala é imagética
Como sonhos ela se forma
Eu queria que você tivesse o poder
de me fotografar.
Queria que você descobrisse
A minha face mais bela
Que é aquela
mais desconhecida por mim...
Mostra aquilo que vês de mim
Uma fotografia que lembra muitas coisas.
Quero ser fotografia regravável
Faz de mim fotografia regravável?

significantes de vida

Ultimamente as coisas vivem
Mudando de sentido
Nuvens, infância, felicidade
Futuros, amor...
Por outros tantos que nunca pensei
Elas vivem mudando de sentido
Como galopes de corcéis
Como os pulos de amarelinha
1,2,3,4,5...8...10... céu
São tantas coisas
Antigas coisas que compreendia
Hoje são vozes, vozes, ecos...
Que são reutilizadas para falarem outras coisas
Vida, morte, nuvens, juventude
São agora outras coisas
E  as minhas frases cada vez mais despudoradas
Interpoladas, interpuladas
Sem pudor para falar dessas coisas
Vão deslizando, escoando, descolando de outros
Decolando para outros significantes, escorando
Descorando
Porque estou sempre de mudanças
Com mudança na cabeça
Atrapaiado
Não sou bicentenário
Para viver a longevidade do tempo
Mas se a vida me incita a percorrer os caminhos da terra
Que dirá dos significantes que se marcam?
E vou falando por aqui para nunca terminar
Um mísero ponto final no final de tudo, se diz tudo?
Há ponto final, de exclamação, de interrogação, de interjeição
Mas a gramática cega nunca escutou em falar
De ponto de iniciação...
Quando coloco um ponto final é que começam outras coisas...

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

pulsão de vida

nem tudo que é vivo, é verde. Pulsão de vida: uma tal de vida se escondendo na vida, uma tal de vida se escondendo na morte.