sexta-feira, 25 de março de 2011

tempo


dentro de um segundo
estão embutidos
outros tantos segundos
como o segundo decisivo da imagem...

lugar e espaço


O espaço é dos objetos
O lugar é dos existentes...
Causa-me estranheza
voltar
aos lugares onde andei:
eu não estou neles
mas eles estão em mim...
Sensação de voltar aquilo
que um dia ja se viveu.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Crianças ou e Igrejas


Tenho o costume de todos os domingos ir para a igreja. E é costume de muitos tempos, ensinado, aprendido, gostado. Logo a missa, que é um rito e necessita de muita atenção, silêncio. Mas de vezenquanto acontece que todo esse silencio é cortado, pelos erros dos cantores ou dos padres ou coroinhas, quando algum louco fica falando com as pessoas ou quando algumas crianças gritam, correm em meio aos corredores ou choram ecoando pelos arcos, púlpitos e altares. Parece que as igrejas e crianças não dão muito certo, desconcentram os fiéis, os pais ficam correndo atrás das crianças... mas um certo padre dizia vendo a aflição das mães: 'deixem que esses meninos corram por aqui, podem deixar! Eles estão louvando a Deus..." não é à toa que sua igreja está repleta de crianças brincando enquanto se reza a missa.
Certo domingo incomodei-me bastante com um menino, enquanto brincava com um carrinho por baixo dos bancos. Virei-me e encarei os pais e o próprio menino. Ao mesmo tempo refleti sobre o que eu fiz. Muitas vezes penso, que elas aprenderão a ser tão sisudas e acharão, um dia, que deixarão para trás o ser infantil. Mas além disto, fiquei me perguntando sobre essa nossa própria sisudez, as crianças são personagens que quebram o provável, desconcerta, desconcentra. Resistência.

segunda-feira, 14 de março de 2011

O grito dos excluídos

Certo dia, numa daquelas manhãs quentes de verão, nos tempos memoráveis de colegial, foi organizada uma marcha denominada Grito dos excluídos, com a participação de todos alunos, valendo nota, listas de frequência, algazarras, caras pintadas... coisas de menino de colégio. Quando começou a passeata colocamos faixas que a escola tinha feito e passamos a caminhar pelas ruas, chamando atenção do trânsito da cidade. Em certo ponto do percurso, passamos em frente ao abrigo de idosos. Talvez poucas pessoas imaginaram o que poderia se passar por trás daquelas paredes amarelas mal pintadas, ou lançaram um olhar curioso por trás daquelas janelas pontiagudas poucos, muito poucos. Daquele casarão nenhum barulho, rumor ou movimento saiu em meio a agitação... Quando percebi uma idosa lá do fundo se aproxima da janela e acena para fora. Quem além de mim viu esta cena? Verdadeiramente, para mim, aconteceu naquele momento um grito dos excluídos. Não precisou de interlocutores, não precisou de pena, eles lá dentro nem sabiam quem éramos nós e nós do lado de fora nada sabíamos de grito. Para mim mais do que nota, ganhei a (possibilidade) capacidade de ver que os excluídos clamavam por outras portas, em outras janelas e em outro chão...