segunda-feira, 14 de março de 2011

O grito dos excluídos

Certo dia, numa daquelas manhãs quentes de verão, nos tempos memoráveis de colegial, foi organizada uma marcha denominada Grito dos excluídos, com a participação de todos alunos, valendo nota, listas de frequência, algazarras, caras pintadas... coisas de menino de colégio. Quando começou a passeata colocamos faixas que a escola tinha feito e passamos a caminhar pelas ruas, chamando atenção do trânsito da cidade. Em certo ponto do percurso, passamos em frente ao abrigo de idosos. Talvez poucas pessoas imaginaram o que poderia se passar por trás daquelas paredes amarelas mal pintadas, ou lançaram um olhar curioso por trás daquelas janelas pontiagudas poucos, muito poucos. Daquele casarão nenhum barulho, rumor ou movimento saiu em meio a agitação... Quando percebi uma idosa lá do fundo se aproxima da janela e acena para fora. Quem além de mim viu esta cena? Verdadeiramente, para mim, aconteceu naquele momento um grito dos excluídos. Não precisou de interlocutores, não precisou de pena, eles lá dentro nem sabiam quem éramos nós e nós do lado de fora nada sabíamos de grito. Para mim mais do que nota, ganhei a (possibilidade) capacidade de ver que os excluídos clamavam por outras portas, em outras janelas e em outro chão...

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