sábado, 30 de abril de 2011

obsessiva



Inventar
certezear e serpentear
Enxergar onde não tem
Ou tem?
Enxertar pensamento no outro...
Ou o Outro enxertado no pensamento?
Mente que
secreta pensamentos 
Duvidantes? videntes? Evidentes?
Andantes?
Errantes...

Flutuantemente errantes

terça-feira, 26 de abril de 2011

As profecias do Polvo Paul





























Na época da copa do mundo 2010, para quem estava acompanhando os noticiários mais bobos ou mais ingênuos, viu que existia um "profeta" que previa qual seleção iria ganhar a partida. Esse "profeta" era o Polvo Paul. Com muitas resistências para acreditar em tal coisa, pensei que uma brincadeira. Brincadeira boba? As crianças dizem muito quando brincam... Não sei, sinceramente! Parece que não foi o homem que saiu dos trilhos, mas o mundo, como dizia Hannah Arendt...
Essa incoerência em acreditar em "profecias de polvos" é o que mais me espanta! Parece que estamos tanto desacreditados, mentirosos, nossas notícias nada falam, como se outras coisas desligadas da lógica humana pudesse dar respostas aos emaranhados do mundo... demandam certezas, que procuramos silenciosamente esconder e queimar verdades. Demanda-se respostas aos objetos, fúteis razões em animais: em um polvo com seus tentáculos incertos, em mais uma tentativa em vão de dar coerência ao incoerente, caindo no vão. Assuntando respostas que não tem, e dar uma cara ao Real que não tem cara, assim como mandar cartas para endereços ausentes...

segunda-feira, 25 de abril de 2011

o vendedor de naftalinas

Todos os dias quando passo pelas calçadas de minha cidade, vejo um vendedor de naftalinas sentado no chão em uma porta de uma loja vendendo naftalinas. Mas todos os dias elas se sublimam. Não compreendo essa insistência tamanha em vender algo que se sublima e desaparece todos os dias, numa venda inútil, atividade unútil. Talvez para este trabalhador não seja uma questão importante em gastar seu lucro diário em bolinhas misteriosas e estar alí por estar. Talvez possa nos perguntar quantas e quantas vezes nos engajamos em atividades inúteis apenas por repetir, recordar mais uma vez, acontecimentos escusos se engajando, se sujando, se sublimando...

herança de palavras



As palavras traumatizam
uma herança imagética, linguageira
incorporal, imoral, nominal
brasão, documento, criação
As palavras traumatizam
e matizam.

deserto falta

Neste deserto chamado Falta
sobrevivi e virei gente.
Passam a vida procurando coisas
coisas e coisas
procuram, em fim, para depois perder:
fazem como as folhas do sertão: nascem para depois morrer

terça-feira, 12 de abril de 2011

Yuri Gagarin - o homem que andou no céu

Pra quem vive esperando cair uma lua do céu, quem planeja jogar uma pedra na lua ou quem vive olhando estrelas e nuvens, é pouco o espanto de saber que o homem já pisou na lua. Seria mais espantoso se ele estivesse pisado no céu, porque o homem somente poderá pisar onde tem chão. São Pedro foi inventar de caminhar sobre as águas e quase caiu, se não fosse alí o Cristo do lado. Hoje completam cinquenta anos que o homem pisou pela primeira vez na lua, e nunca mais voltou a pisar nela. Ele estava sozinho na terra de São Jorge, nenhum outro olho humano viu o que ele viu. Enquanto todos esperavam Gagarin dizer as maravilhas do solo lunar, e as respostas para a humanidade em guerra fria, quentemente ele falou: "A Terra é azul..."
Certa vez aconteceu que ia aparecer no céu um cometa que somente a cada centenário volta a percorrer o campo visível da Terra. Neste dia o observatório astronômico estava lotado e não pude comprar um ingresso. Mas pude ver a olho nú da janela de meu quarto. Fiquei a imaginar: os meus antepassados viram o que eu acabei de ver. Eu vi o que eles verão, daqui a cem anos os outros verão o que eu ví, e não estarei mais aqui, para dizer o que eu vi. Já dizia Hemingway que a distância nos dá a perspectiva, é verdade isso que ele falou e
Gagarin foi o único homem que viu a perspectiva da Terra, e da Terra eu ví a perspectiva do mundo feito pelos homens, dos homens siderais, que comem nuvens e céus de todas ordens...

sábado, 9 de abril de 2011

passajeitos

foi olhando para as nuvens
que perguntei a elas
de onde vem tanta beleza
se tão efêmeras e passageiras elas são...
se as nuvens mostrassem os seus segredos
aos homens entenderiam a lição
então perguntei ao vento
de onde vem tanta beleza
se tão leve e rápido ele é
as pessoas aprenderiam muita coisa
pois os homens são
como as nuvens e como os ventos

Gato Vadio



Gato vadio
Que se esconde no mato
Não perde o seu rastro
Não foge de mim!
Gato vadio
De pelo macio
De olho perdido
Assim bem assim
Bicho felino
Correndo assustado
Atrás de um rato
Não é bem assim!
Felino assustado
Não deixa quem pegue
Só corre assim
Gato não beija: só mia
Se tu não me pagas
Me deixa assim!
Gato vadio
Que chega assustado
Miando de lado
Para perto de mim
Chega, miando, carente
Para um leite bem quente
Vir aparecer.
Lá vai no telhado
Pulado nos muros
Miando noturno
Vem aparecer
Assustado que corre
De olho brilhante
O pulo atacante
A desaparecer
Vai gato vadio!
Teu lar é a rua
Lençol é relento E brigas de rua.

Ser: Tão Veredas


Sertão,
Às vezes eu te vejo tão solitário
Entre o Brasil e o Atlântico
Sabe deus quantas almas
Perderam o seu nome em tuas
Terras cristalinas.
Vejo-te tão perto de mim
E ao mesmo tempo longe
Longe de ver tuas secas
Seus horrores
Pois nasci em teu chão
Fui formado de areia e vento
Bebo a água toldada pela tua terra
Em meus pés há raízes
Sabe lá onde param
Nasci na beira da água
Do chamado acaraú
Filho das famílias pioneiras
Que primeiro colonizaram o sertão
Ainda há em meus olhos
O mesmo espanto
Dos meus antigos pais
Ao ver o sertão tão imenso
Eu te vejo solitário.
Que dirá de ti?
Ora, que dirá de ti?
Entre pedras brutas e sem brilho
Solitário de elogios
Fazendas perdidas e abandonadas
No distrito sem nome
Mais escondido do Brasil
Sertão ausente de estradas
Medievo, espantado
Sertão sem nome bonito, ermo
Sem estrangeiro
Excluído e hostil
Vejo os teus matagais no horizonte
Parecem lanças de guerreiros
Postos para a guerra
Que guerra...!
Ao qual foi negado a água
A criação cristalina de Deus
Mas ora vejo espantado
De tudo que há em ti....

sábado, 2 de abril de 2011

O homem que comprou chuva do Pe. Cícero



Minha avó contava algumas histórias sobre Canindé e Juazeiro, eram lugares onde a presença da religião sempre foi muito forte. Uma história bastante interessante era contada quando algo da religião era condenado ou desafiado. Ela levantava a mão e contava a história do homem que comprou chuva do Pe. Cícero. Minhas tias e minha mãe quando eram bem pequenas aprenderam também esta história e agora para os netos...
Num lugar em que as chuvas são escassas e numa época de bastante seca, um fazendeiro assim como tantos outros necessitava de chuvas para alimentar sua lavoura e seus rebanhos.
Nesta época a fama que o santo padre obrava milagres era tanta que muitas pessoas faziam romarias e alcançavam tantas graças. Então o tal fazendeiro resolveu recorrer aos poderes que não eram humanos, mandando uma carta para Juazeiro comprando com uma quantia de 10 mil contos de réis, chuvas para a sua propriedade. Padre Cícero respondeu a carta muito solícito e disse que dez mil réis "era muito de chuva", poderia acabar com tudo, só bastava trinta mil e mandou o troco de volta. Mas o tal fazendeiro queria mais e mandou novamente uma carta com os setenta mil. O padre fez conforme o pedido. Foi uma chuva torrencial que destruiu tudo, levou gado, derrubou árvores, só restou a casa e a vida das pessoas para contarem a história. Tudo isso aconteceu somente nos limites daquela terra, as fazendas dos vizinhos ficaram sem cair uma gota de água. Eu nunca acreditei direito nessa história, mas minha tia em uma fila de banco contou essa mesma história para uma senhora e esta respondeu:
- É verdade, eu sou a filha deste fazendeiro...